Resumo |
Em “Um náufrago que ri”, Rogério Menezes navega, sem naufragar, entre a realidade e a fantasia, entre a memória e a invenção.
A decadência financeira e existencial de um homem do ponto de vista de seu gato. Um felino completamente crítico, mestre em comentários ácidos e duras avaliações. Pelos olhos verdes-esmeralda do carismático gato Ravic, que, entre umas dormidas e outras, passa a vida observando tudo o que acontece à sua volta, Rogério Menezes elabora um sarcástico e entusiástico retrato da frágil condição humana. Nada que é humano escapa da língua ferina de Ravic. Principalmente Antônio Martiniano (ou, na escrita Raviquiana, A.M), o criador dessa criatura sobre-humana, que tem quatro patas e se diz estoica. Um gato que nunca comeu passarinhos, mas cita Henry James e se curva a Philip Roth. Ravic é a redenção do dono, um jornalista desempregado em crise de meia-idade, um escritor que nunca conseguiu desabrochar. Um incansável decifrador de espaços, sentimentos e subjetividades como o gato Ravic o é. Enquanto Antonio Martiniano se dilacera em dores profundas, em trágica dissonância, em colisão frontal, com os horrendos tempos em que vivemos, seu gato de estimação dá de ombros e se diz a todo instante: ok, esse é o pior dos mundos, ora bolas, mas é o que temos. |